Obesidade pode atrapalhar na recuperação de ferimentos na cabeça

A obesidade é um contribuinte conhecido para uma série de riscos à saúde, desde diabetes até câncer, mas uma nova pesquisa sugere que também pode atrasar a recuperação de uma lesão cerebral traumática leve.

Por que? A inflamação sistêmica que a obesidade pode causar no corpo pode ser um fator determinante, de acordo com os pesquisadores.

"Esta é uma população muito pouco estudada em relação aos resultados impactantes da obesidade", disse o principal autor do estudo, Shawn Eagle, professor assistente de pesquisa no Departamento de Cirurgia Neurológica da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh. “Mas saber que uma pessoa com excesso de gordura corporal pode ter um tempo pior pode servir como ponto de partida para encontrar certos tratamentos direcionados que podem ser úteis para ajudar essa pessoa a melhorar”.

É bem conhecido que a obesidade severa prejudica as habilidades de raciocínio, observou Eagle.

E Eagle observou que os pacientes que carregavam excesso de gordura corporal estavam tendo mais dificuldade em se recuperar de lesões cerebrais traumáticas leves (mTBI) enquanto ele trabalhava em uma clínica especializada em concussão.

"Quanto mais eu pensava sobre isso, mais fazia sentido. É bem conhecido que uma inflamação maior após um TCE está relacionada a resultados piores, e a obesidade é essencialmente uma condição inflamatória", disse Eagle.

Embora sejam chamados de "leves", esses ferimentos na cabeça podem causar sintomas graves. Alguns pacientes chegam a ter limitações funcionais um ano depois.

Terapias cognitivas comportamentais e físicas podem ajudar. No entanto, quando um paciente apresenta inflamação cerebral prolongada, isso pode atrasar a recuperação.

Os pesquisadores estudaram essa conexão inscrevendo 770 pacientes que sofreram mTBI dentro de 24 horas após a lesão. Os inscritos incluíam aqueles que eram obesos e aqueles com peso saudável, e todos foram acompanhados por um ano.

A equipe conseguiu determinar os níveis de inflamação observando dois biomarcadores sanguíneos - proteína C reativa de alta sensibilidade (hsCRP) e proteína interleucina seis (IL-6) - que estão associados ao aumento da inflamação sistêmica e à promoção da inflamação no corpo, respectivamente.

Ao testar os pacientes, os pesquisadores descobriram que aqueles que eram obesos tinham concentrações mais altas de hsCRP em comparação com o grupo controle duas semanas e seis meses após a lesão. Eles também tiveram maior concentração de IL-6 em duas semanas, seis meses e 12 meses.

Os pesquisadores também avaliaram os sintomas dos pacientes aos seis e 12 meses, descobrindo que os pacientes obesos tinham problemas prolongados.

Os resultados foram publicados  no Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry. A pesquisa foi financiada pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.

"Achei que era um artigo importante. Acho que apóia nossa compreensão anterior do trabalho neste campo", disse o Dr. Shouri Lahiri, diretor da Unidade de Cuidados Críticos de Neurociências do Cedars-Sinai em Los Angeles. Ele não fez parte do estudo, mas revisou os resultados.

Uma maior compreensão sobre essas questões levará à pesquisa, financiamento e outros mecanismos para intervenções, disse Lahiri.

Também pode ajudar na mudança de comportamento.

"Reforça as vantagens de um estilo de vida saudável, certo?" Lahiri disse, observando as vantagens de uma boa dieta e exercícios para ajudar na recuperação de lesões na cabeça. “Isso poderia encorajar as pessoas a aderir a esses tipos de escolhas de estilo de vida com mais cuidado”.

A perda de peso pode ajudar aqueles que já estão feridos?

"Há um monte de relatos de casos muito interessantes de pessoas com obesidade grave que fazem cirurgia bariátrica e notam melhorias muito rápidas em suas habilidades cognitivas", disse Eagle. "Faz sentido que a redução de peso reduziria o tecido adiposo, o que reduziria a inflamação. Mas normalmente as pessoas com mTBI se recuperam em um curso mais rápido do que você faria para perder peso".

Um estudo futuro pode analisar os benefícios da perda de peso após o mTBI, disse Lahiri. Ele também gostaria de ver qual o papel que o exercício pode desempenhar em ser protetor.

Embora ainda não haja evidências, é possível que haja algum benefício em tomar medicamentos anti-inflamatórios naturais ou prescritos e fazer melhorias no estilo de vida na dieta, sono e atividade, disse Eagle.

“Fazer exercícios cedo e reiniciar sua rotina típica ajudará as pessoas a se recuperarem dessa lesão mais rapidamente”, disse Eagle.

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Escrito por: Cara Murez